segunda-feira, 8 de abril de 2013

Taxa

(Enviada para o Pedro) Ela era negra, com olhos completamente nefastos. Quando eu era pequena eu sempre os olhava, eu vivia os olhando. Hoje eu penso que, se talvez olhasse um pouco mais fundo, ou só por um pouco mais de tempo, me perderia na mente daquela Labradora. Eu não me lembro de quando ela chegou, eu era bem pequena. Sempre achei o seu nome um tanto quanto estranho: Taxa. Taxa, para mim, eram aqueles alfinetes pontudos que se colocam em murais. Que se penduram fotos, que se pregam lembranças... Eu poderia associar alfinetes a Taxa, porque apesar de ser uma cadela, aproximava muitas coisas para perto de si. Eu sou um exemplo disso. Ela nasceu no mesmo dia que eu: 2 de agosto. Por isso, em todo o meu aniversário, depois do bolo, eu fazia questão cantar parabéns também para Taxa, que para meu grande desapontamento, não entendia nada. Essa Labradora ganhou vários apelidos ao longo dos anos. Alguns, eu prefiro não citar. Mas de todos um reinava soberano: Boi. Chamávamos ela assim por causa do seu tamanho, que se expandia para o lado e para frente. Não que isso fosse mal, afinal, nunca tinha dado nenhuma complicação. Uma coisa engraçada é que ela não latia. Não que fosse muda ou tivesse algum problema, nós que a ensinamos. Isso aconteceu devido a minha grande sensibilidade a latidos de cachorro, quem me conhece bem sabe, que se algum cachorro latir perto de mim, a primeira coisa que eu farei, é tapar os ouvidos. De vez em quando, quando tocavam a campainha da sala, por exemplo, ela soltava um som que ecoava pelos meus ouvidos, e fazia com que eu ficasse completamente inquieta. Mas quando eu dizia "Taxa, não lata, você sabe que eu não gosto" ela me olhava, e cessava seu latidos um tanto quanto roucos. Eu sei que ela poderia muito bem sair latindo, que algum dia ela poderia não aguentar mais, que ela poderia ter uma vontade louca de latir e não se segurar, só que isso não aconteceu. Ela sabia latir, mas apenas não o fazia. Foi então que em 2011, veja bem, ela tinha doze anos, Taxa pegou uma infecção no fígado que se espalhou pelos rins, e aos poucos, para o seu corpo todo. A última vez que eu vi a Taxa, foi em casa. Nós dois, eu e meu pai, demos banho nela. Aah, como ela amava banho! Depois, eu peguei um secador velho, a deitei no tapete na sala, e ficamos lá, eu e ela, até ela adormecer. E ela adormeceu.

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